Assim surge Hadassa, ou Ester, no texto sagrado: como uma menina judia órfã, sem pai nem mãe, que precisou ser acolhida por seu primo Mardoqueu. “Hadassa” significa, em hebraico, “mirto”, “murta”, nome de um arbusto, i.e., uma árvore pequena, “…com raízes e casca usada para extração de tanino, madeira de qualidade, folhas ricas em óleo usadas em perfumes, assim como as flores brancas, aromáticas, e as bagas carnosas…” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). A murta é de origem desconhecida, mas foi associada, desde cedo, à prática de cerimônias e rituais religiosos, além do que as folhas eram comumente usadas para as grinaldas das noivas.
Apesar de ser apresentada como sendo chamada “Hadassa” em Ester 2:7, é a única vez em que Ester é assim denominada, sendo, então, dali por diante chamada de “Ester”, nome também hebraico, que significa “estrela” e que dá a entender que a pessoa que tem tal nome é uma “pessoa cativante, charmosa e sensual”
O texto sagrado não diz o motivo destes dois nomes, mas entendem os estudiosos da Bíblia que o nome de Ester deve ter sido dado a Hadassa pelos funcionários do rei quando a levaram para a casa do rei da Pérsia. Por ser moça bela de parecer e formosa à vista, foi-lhe dado o nome de “Ester”, que é, certamente, a versão hebraica do nome persa que se lhe deu e cujo significado era “estrela”. Há, mesmo, um comentário bíblico antigo, feito ainda em aramaico (chamado “targum”) que diz que o nome dado a Ester era em homenagem à deusa da beleza, “Istar” ou “Aster”, cujo significado é, precisamente,o de “estrela”.
Ester vivia na companhia de seu primo e pai de criação, em pleno anonimato, quando é levada pelos funcionários reais, sob o comando de Hegai, o responsável pelas mulheres do rei da Pérsia (Ester 2:8,15), para a casa do rei, diante da ordem real para que se levassem à sua presença todas as moças virgens e formosas à vista a fim de que fosse escolhida uma nova rainha, tendo em vista que Vasti, que era a rainha da Pérsia, havia sido destituída por Assuero, já que se negara a comparecer diante dos seus convidados em uma longa festa real, o que foi considerado como verdadeiro crime de lesa-majestade, ou seja, crime cometido contra o soberano e contra a própria organização social (Ester 1:16-22).
De uma hora para outra, a pacata cativa órfã se vê dentro da casa do rei. Em virtude de sua formosura e beleza, Ester logo adquiriu o favor de Hegai, passando a ter o melhor lugar da casa das mulheres (Ester 2:9). Embora estivesse naquela posição por causa da sua aparência física, Ester logo revelou não ser apenas bela sob este ponto-de-vista, mas, notamos no texto sagrado, que, além da beleza estética, possuía Ester, também, uma beleza espiritual, uma beleza interior. A Bíblia diz-nos que Ester não havia declarado nem a sua nacionalidade, nem a sua descendência, porque assim lhe havia determinado Mardoqueu, seu pai de criação (Ester 2:10).
Ester, porém, era uma pessoa obediente a seu pai, apesar de ser um pai de criação(Ester 2:20). Ester demonstrava toda a sua piedade, todo o seu amor a Deus e à Sua Palavra neste gesto simples de obediência, sendo de se ressaltar que, pela narrativa bíblica, nem mesmo o rei soube a sua nacionalidade e a sua parentela a não ser quando Mardoqueu lhe permitiu, ou até, ordenou que houvesse tal revelação. Pareceria sem sentido e sem qualquer propósito esta ordem de Mardoqueu, mas Ester não a questionou e, mesmo rainha, sempre obedeceu a seu pai de criação, que continuou a ser tão somente o “porteiro do rei”.
Esta mesma obediência que Ester demonstrou ter com Mardoqueu, também se repetiu com relação a Hegai, em cujas graças havia caído (Ester 2:9). Em vez de se favorecer da predileção do funcionário real, Ester preferiu aprender com Hegai e seguir-lhe todas as instruções, esforçando-se por aprender os costumes do palácio, o que não deveria ser fácil para uma moça pacata e que, até há pouco tempo, nem pai nem mãe tinha. Ester procurava agradar a todos, comportar-se exemplarmente e, por isso, alcançava graça aos olhos de todos os que a cercavam (Ester 2:15).
O resultado desta obediência e altruísmo de Ester foi a sua escolha como rainha. Assuero teve a graça e a benevolência do rei, numa comprovação da chamada “lei da ceifa” (Gálatas 6:7), uma das leis divinas que muitos têm negligenciado e se esquecido nestes dias tribulosos em que vivemos. Como demonstrava graça aos outros, como era benevolente aos outros, Ester foi tratado com graça e benevolência por Assuero e alcançou a posição de rainha. A escolha de Ester deu, como resultados imediatos, uma nova festa real, bem como repouso a todo o reino da Pérsia (Ester 2:28).
Assim, quando convocou uma festa para celebrar seu casamento com Ester, Assuero demonstrou que a alegria havia voltado à sua vida, o que representava, certamente, um alívio para a população daquele vasto império. Vemos, pois, que Ester se apresentou, de pronto, como uma bênção para todo o reino, um motivo para contentamento e alegria de todas as cento e vinte e províncias desde a Índia até a Etiópia, que se encontravam sob o cetro de Assuero. O bom testemunho de Ester resultara em alegria, felicidade e contentamento para todo o Império Persa. Mas, além de ter havido uma festa quando da coroação de Ester, a Bíblia nos diz que, após esta coroação, seguiu-se um período de repouso no Império (Ester 2:18).
O bom testemunho de Ester, portanto, aliado a sua formosura e beleza, foi o grande responsável por tornar uma órfã cativa na rainha da Pérsia. Mas tudo isto era um propósito divino para a salvação não do Seu povo, mas de toda a humanidade. No trono, a agora rainha Ester não alterou a sua conduta. Diz-nos a Bíblia que, mesmo após sua coroação, Ester continuou a obedecer ao seu pai de criação, Mardoqueu, não declarando a sua nacionalidade nem a sua parentela (Ester 2:20). “O sucesso não subiu à cabeça”, como diz conhecido dito popular. Ester manteve a sua humildade, não se ensoberbeceu, apesar da vitória alcançada.
Após o repouso causado pela coroação de Ester, conta-nos o texto sagrado que se inicia uma grande tribulação na vida não só de Ester mas de todo o povo judeu. Assuero decidiu exaltar Hamã, um agagita, ou seja, um descendente de Agague, rei dos amalequitas, tradicional povo inimigo do povo judeu e que já deveria ter sido destruído da face da Terra, não fora a desobediência de Saul (I Samuel 15:8,9). Vemos, assim, de pronto, como a desobediência a Deus deixa suas conseqüências e vestígios que, após séculos, ainda podem prejudicar o povo do Senhor.
Ester não havia sido guindada à posição de rainha à toa. O Senhor, na Sua presciência, sabia que Israel correria o risco de desaparecer e, como tinha compromisso com a Sua promessa de salvar a humanidade, feita ainda no Éden (Gn.3:15), não poderia permitir que o povo judeu fosse completamente destruído. Hamã, diante do seu prestígio, logo conseguiu do rei Assuero a ordem para a destruição completa do povo judeu (Ester 3:7-15). Ester, uma vez mais, foi obediente e, na obediência está o segredo da vitória. Abandonou o seu indiferentismo, pediu a intercessão dos judeus e iniciou três dias de oração e jejum, decidida a arriscar a sua vida a fim de obter a salvação do seu povo (Ester 4:16).
Assuero não resistiu a Ester e apontou a ela o cetro de ouro, garantindo-lhe a vida. Ester, mulher prudente, quando recebeu a oferta de até metade do reino, nada pediu, a não ser a presença do rei e de Hamã em um banquete. Ester não foi precipitada, mas, em consagração, sabia que deveria conduzir-se com cuidado e discrição, para obter a bênção. O momento era de iminente destruição, mas apressar-se, afobar-se nunca foi uma conduta que caracterizasse o servo de Deus, que, como seu Senhor, deve ser paciente e longânimo. Ester convidou o rei e Hamã para o banquete e o rei prontamente aceitou o convite.
Ester dá, então, o banquete, mas, dentro de sua prudência e cautela, nada revela ao rei na primeira noite. Apenas serve a ele e a Hamã com toda a presteza e pede para que tornem no outro dia. Ao agir assim, Ester estava sendo dirigida pelo Espírito de Deus, visto que, no dia seguinte, Deus providenciaria a devida honra a Mardoqueu diante de Hamã.
No segundo banquete, então, Ester denuncia Hamã, sabendo que era o momento propício para tal. Certamente, vira a forca que fora construída por Hamã com o objetivo de matar Mardoqueu e tivera conhecimento de como Mardoqueu fora exaltado naquele dia. Diante de tais fatos, sabia que chegara o momento para que intercedesse pelo seu povo e assim se fez. Denunciado, Hamã se desesperou e acabou sendo enforcado na própria forca que mandara fazer e Mardoqueu foi posto em seu lugar. Como se não bastasse, Assuero, que não podia revogar a sua lei, permitiu que os inimigos dos judeus fossem destruídos antes da data marcada para a destruição do povo judeu e o povo judeu acabou sendo exaltado no meio do Império Persa, nunca mais correndo qualquer risco sob este domínio. O povo de Deus fora preservado e, com ele, o plano divino para a salvação do homem, pois, graças a esta preservação, menos de 500 anos depois nasceria o Cristo para tirar o pecado do mundo.
Para celebração desta grande libertação do povo, instituiu-se, então, a festa de Purim (Ester 9:20-32), que é comemorada pelos judeus até a presente data, nos dias catorze e quinze do mês de Adar, mês que corresponde aos nossos meses de fevereiro ou março. Ester tornara-se, assim, um instrumento divino para a salvação de seu povo, um instrumento divino para a salvação da humanidade, pois a preservação do povo judeu representou a preservação da “posteridade de Abraão” que tornaria benditas todas as famílias da Terra.
Fonte: Ensino Dominical
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