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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Netinho Visita o Cristo Redentor No Rio De Janeiro e Diz: "Eu Sou Um Milagre"

Sentado sob a sombra, Netinho olha calado toda a movimentação à sua volta. Com ele estão os empresários, uma amiga e sua assessora e fiel escudeira. Gente que o cercou nos momentos mais difíceis de um inesquecível 2013. Dali a alguns minutos, o cantor baiano de 47 anos iria reviver uma experiência que o marcou quase três décadas atrás: visitar o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Com alguma dificuldade ainda, Netinho se levanta do banco, dá alguns passos em direção ao trenzinho do Corcovado e, mesmo de óculos escuros e bem diferente da figura sarada que ostentava há alguns anos, é reconhecido pelos fãs. Gente de tudo que é canto pede fotos, conversa, abraça. Dá a ele uma palavra de conforto, uma injeção de energia. E provavelmente um dia pensaram que não o veriam vivo. Mas Netinho sobreviveu para contar histórias após quatro cirurgias no cérebro por conta dos AVCs sofridos, e várias outras no abdômen em função da doença de nome difícil - adenomas hepáticos benignos -, do coma, dos exames exaustivos e da quase morte: "Eu sou um milagre", sintetiza ele, com sorriso nos lábios..

A pedido do cantor, o EGO o levou ao monumento mais representativo da cidade para que ele vivesse uma nova experiência. Nos sete meses em que esteve internado, Netinho não só lutou pela vida entre tubos, agulhadas e diagnósticos apavorantes, como reencontrou sua fé. "Sempre fui espiritualista, mas muito questionador. Questionava a existência desse Deus católico. Eu era um darwinista, duvidava um pouco de tudo issso. E o meu despertar de fé veio com o que vi e senti no hospital. Foram sete meses de muita luta e sofrimento, isso não é para qualquer um. Fiquei ali entregue, sem ação. Eu não falava, não tinha qualquer movimento. Não podia fazer nada. E senti a presença de Deus muito forte nessas horas. Muitas pessoas oravam por mim, tentavam ser sempre alegres, você não faz ideia de quantas cartas recebi no hospital. Isso me ajudou e mudou minha fé", analisa ele, quatro meses após a alta.

A fé, porém, não veio apenas através das orações de anônimos e gente famosa como as amigas Claudia Leitte e Ivete Sangalo, além do Padre Marcelo Rossi, que estiveram no hospital. Claudia, rezou por ele e com ele. Ivete tentou levar esperança, mas ao ver o amigo pesando apenas 50kg (ele pesava 82kg antes), não aguentou e caiu no choro. "Ela chorava sem parar", conta Netinho.

Segundo Netinho, o padre também orou e contou a ele sua própria experiência com anabolizantes, que também potencializaram a doença do cantor. Netinho admite que as substâncias podem ter afetado a sua saúde. "Usei durante dois anos, com receita médica, porque eu queria fazer reposição hormonal. Não dormia direito, viajava muito, precisava de resistência. Eles não foram a causa, mas possivelmente aumentaram os riscos de uma doença que pode ser genética. Óbvio que eu sou vaidoso como todo mundo, mas não fiz uso para ser um saradão. Não sou fisiculturista", justifica o cantor.

Dos 82kg habituais, no hospital Netinho perdeu 32. E se espantou muito ao se ver no espelho. "Eles esconderam de mim como eu estava, taparam meus espelhos, os vidros. Mas quando estava em uma cadeira de rodas e fui fazer um exame, passei por um espelho e me vi pele e osso. Foi bem assustador", conta ele, que sempre acreditou em sua recuperação. Ou quase sempre: "Teve uma vez que eu precisava fazer um exame muito difícil, e eu não queria fazer, já estava entregando os pontos mesmo. Estava em um momento em que já não tinha mais forças para lutar. E ouvi uma voz. Não uma voz que sopra aos ouvidos, mas uma que me ecoava na cabeça: 'Você acha que será assim para sempre? Não vai. Isso vai passar. Tenha calma e paciência. Isso me levou até o fim. Nunca achei que eu fosse morrer. Nunca me revoltei. Nunca perguntei o por quê. Mas sabia que havia um propósito em tudo isso".

Aos poucos, Netinho vai descobrindo o que a vida quis com esse episódio dramático. A tal da paciência - algo que jura nunca ter tido - é uma das qualidades mais exercitadas hoje em dia: "Por mim, faria vários shows, subiria no trio, passaria dias em estúdio. Mas sei que ainda não estou 100%, sei que preciso fazer a fonoaudiologia direitinho, me exercitar para recuperar a forma física, não me estressar. Tudo o que faço após a internação tem sabor de novidade. Antes eu tinha sonhos grandiosos, ser um cantor de fama internacional, ser bem-sucedido. Hoje meus sonhos são menores e tão significativos quanto. Hoje sonho com o dia em que vou poder correr de novo", revela ele, que por conta de meses acamado, ainda fica um pouco tonto quando está de pé.

Nada que o impeça, no entanto, de prosseguir. Com 25 anos de carreira, ele lança agora o CD "Beats, Baladas & Balanços - manual para baladas”, gravado antes da doença, e cuja música de trabalho se chama Decolaê. "Todo ano, depois do carnaval, eu viajo. Mas ano passado decidi gravar um CD logo. Parecia que estava advinhando que não teria tempo depois", conta ele, que, mesmo impossibilitado, dava um jeito de mandar seus pitacos para os produtores do álbum diretamente do hospital: "Sou chato mesmo, me produzo, e tive muito tempo ocioso para ouir as gravações e pontuar o que achava. Este disco foi todo com composições que recebi pela internet e ele é pra cima, celebra a vida e a alegria".

Com todo esse tempo de estrada, Netinho ainda é lembrado por onde passa por "Milla", música que estourou no carnaval de 1996. Como em uma grande homenagem sem qualquer ensaio prévio, no trajeto de volta do Cristo Redentor, um grupo de sambistas cantou a música com a ajuda de pandeiros e dos turistas ali presentes. Sentadinho no banco, do lado da janela, com o Rio de Janeiro a seus pés, Netinho, emocionado, com voz meio embargada, cantava baixinho partes de sua música mais lembrada. Seguiu viagem como espectador. Do momento. Porque da vida é protagonista: "O que senti hoje aqui não tem explicação. Sentir essa energia toda é a resposta para tudo o que passei".

Fonte: EGO

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