Em abril de 2013 estreará no Brasil o desenho animado “Uma História de Amor e Fúria”. Brasil, ano 2096. A água é controlada por uma empresa bilionária chamada Aquabrás. O presidente do Brasil é um pastor evangélico com relações estreitas com milícias que possuem ações na bolsa e matam crianças para proteger interesses da elite.
Não é um futuro tão difícil de imaginar. Mas o potencial de polêmica é o combustível de "Uma História de Amor e Fúria", animação escrita e dirigida por Luiz Bolognesi, roteirista de "Bicho de Sete Cabeças" (2001), que promete ser um marco do gênero na filmografia brasileira.
A animação que foi escrita e dirigida por Luiz Bolognesi teve um orçamento em torno de R$ 4,5 milhões e foi apresentada nesta segunda-feira (08/10) no Festival do Rio.
A animação é um épico que começa em 1566, próximo à fundação do Rio (1565), passa pela revolta da Balaiada, no Maranhão, por movimentos estudantis nas décadas de 1970 e 1980 e culmina neste futuro distópico, cujo maior choque visual é o Cristo Redentor em ruínas.
"O Cristo é o grande símbolo do Rio. Várias pessoas falaram: 'Cara, você vai ser linchado!'", contou Bolognesi em entrevista à Folha.
Esse futuro foi escrito há pouco mais de um ano, mas o projeto é bem mais velho. Começou há dez anos, quando Bolognesi foi inundado de possibilidades após o sucesso de "Bicho de Sete Cabeças".
"Eu adoro HQs e história do Brasil. O projeto ideal seria unir as duas coisas. Como somos irresponsáveis, decidimos fazer um longa animado", brinca o cineasta.
Irresponsável por duas razões: 1) O Brasil não tem tradição em animação de qualidade para o cinema; e 2) O desenho, violento, não é feito para a criançada.
"Foi extremamente difícil vender o projeto. Todo mundo me chamava de louco", diz o diretor. Bancado pelas produtoras Gullane e Buriti, o longa levou seis anos para virar realidade, teve um orçamento em torno de R$ 4,5 milhões e uma equipe de 30 jovens animadores.
"Começamos em Águas de Lindóia [interior paulista], porque o aluguel era mais barato. Passamos por Santos e terminamos em São Paulo. Alguns se casaram e tiveram filhos durante o processo."
A espera valeu a pena. "Uma História de Amor em Fúria", em que o personagem dublado por Selton Mello é uma espécie de highlander indígena com 600 anos, enquanto Camila Pitanga dá voz ao amor eterno do índio, é um produto de qualidade inédita do gênero no país.
Usa a equipe de som de "Tropa de Elite", tem trilha sonora incidental comandada por Pupillo, da Nação Zumbi, e Rica Amabis e uma bela animação em 2D.
Bolognesi aproveitou o estilo americano que marca o traço de seus animadores para compor os personagens. Mas também mostrou à equipe desenhos como "Ghost in the Shell" (1995), e o coreano "Wonderful Days" (2003).
O visual fantástico esconde o tom didático do roteiro ao tratar de revoluções dos oprimidos contra a elite. Traficantes são comparados a cangaceiros e retratados como heróis. "Todo mundo achava Lampião um monstro, assim como veem os traficantes hoje", polemiza Bolognesi. O filme vai mais longe. Diante do corpo de um traficante morto, o protagonista fala: "Meus heróis não viraram estátuas, mas morreram lutando contra eles".
"Essa narcocultura é erótica. O que vende no exterior é filme de mano com pano na cabeça e arma na mão, como 'Cidade de Deus' e 'Tropa'. A violência é lamentável, mas o homem revoltado produz realidade. E ela é vida e morte."
Sobre a produção brasileira, o pastor assembleiano Rubens Teixeira, entrevistado pelo Blog Holofote.Net disse que “o preconceito contra evangélicos vende filmes, novelas e programas de TV”. Para ele, “a realidade é que, independente de quais sejam as razões (que motivaram a produção do desenho animado), são eivadas de desrespeito e de lamentável pobreza de espírito comuns em ambientes medíocres”.
Abaixo a declaração completa do pastor Rubens Teixeira:
“Não é parte da doutrina cristã a prática de crimes e nem de uso da força. Por isso, não há coerência entre a realidade e a ficção apresentada. O comentário e o filme podem ser reflexo de preconceito contra os evangélicos existente na mente dos que idealizaram e dos que apreciam a obra. O preconceito contra algumas religiões geram rebeliões e mortes, o preconceito contra evangélicos vende filmes, novelas e programas de TV. Não sei se a mola propulsora deste filme é um incentivo ao preconceito aos evangélicos ou a busca de lucros com este preconceito. A realidade é que, independente de quais sejam as razões, são eivadas de desrespeito e de lamentável pobreza de espírito comuns em ambientes medíocres”.
Fonte: Folha de São Paulo/Holofote.net
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